Sou eu caboclo da roça
Criado dentro da mata
Nunca calcei um sapato
Nunca usei uma gravata
Moro perto da cidade
Mas pra falar a verdade
Só vou lá de feira em feira
Ou quando há precisão
De batizar um pagão
Ou buscar uma parteira
No dia que registrei
O meu filhinho mais novo
O juiz estava nervoso
Brigando no meio do povo
Me chamou de maltrapilho
Sujo, plantador de milho
E disse mais uma piada
Dessas que a boca não cabe
Matuto pobre só sabe
Fazer menino e mais nada
O juiz não tinha filhos
Que enfeitasse sua vida
Eu conhecia a história
E fui direto na ferida
O senhor está zangado
Tem dez anos de casado
E a mulher não tem um filho
A sua comida é fina
Não contém a vitamina
Que há na massa de milho
A minha família é grande
Dez filhos e a mulher
Sua família é pequena
Mas é porque você quer
A sua mulher lhe embroma
Quase todo dia toma
Anticoncepcional
Lhe vicia na novela
Dorme tarde faz tabela
Se esquece do principal
Ouvi o senhor dizer
Que está gastando por mês
Mais de dez salários mínimos
Só com perfume francês
Diz que a vida é uma bomba
Que foi não foi leva tromba
Com mercadoria falsa
Comprar perfume estrangeiro
É pra quem possui dinheiro
Nos quatro bolsos da calça
Caro doutor lá em casa
Ninguém nem conversa em luxo
A fora uma simples roupa
O resto é encher o bucho
Não acostumei meu povo
Exigir sapato novo
Pras festas de são João
Ao invés de um colar de ouro
Compro a rabada de um touro
Pra se comer um pirão
Lá ninguém fala em perfume
O que há na minha casa
É cheiro de carne assada
Pingando em cima da brasa
Minha cabocla MARIA
Gorda, disposta e sadia
Pra toda vez que eu quiser
Botar fogo na geléia
Que pra isso minha VÉIA
É mulher sendo mulher
Eu como é galinha caipira
E não galeto de granja
Ao invés de coca-cola
Tomo suco de laranja
Com rapadura de mel
E escute aquir baxaréu
Conversa longa me atrasa
Quer ver a mulher ter filho?
Bote um plantador de milho
Pra dormir na sua casa.
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