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quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Linguage dos óio


 

Quem repara o corpo humano 
E com coidado nalisa,
 
Vê que o Autí´ Soberano
 
Lhe deu tudo o que precisa,
 
Os orgo que a gente tem
 
Tudo serve munto
 bem, 
Mas ninguém pode negá
 
Que o Auto da Criação
 
Fez com maior prefeição
 
Os orgo visioná.

Os óio além de chorá,
 
í‰ quem vê a nossa estrada
 
Mode o corpo se livrá
 
De queda e barruada
 
E além de chorá e de vê
 
Prumode nos defendê,
 
Tem mais um grande mistér
 
De admirave vantage,
 
Na sua muda linguage
 
Diz quando qué ou não qué.
 

Os óios consigo tem
 
Incomparave segredo,
 
Tem o oiá querendo bem
 
E o oiá sentindo medo,
 
A pessoa apaixonada
 
Não precisa dizê nada,
 
Não precisa utilizá
 
A lí­ngua que tem na bí´ca,
 
O oiá de uma caboca
 
Diz quando qué namorá.

Munta comunicação
 
Os óio veve fazendo
 
Por izempro, oiá pidão
 
Dá siná que tá querendo
 
Tudo apresenta na vista,
 
Comparo com o truquista
 
Trabaiando bem ativo
 
Dexando o povo enganado,
 
Os óios pissui dois lado,
 
Positivo e negativo.

Mesmo sem nada falá,
 
Mesmo assim calado e mudo,
 
Os orgo visioná
 
Sabe dá siná de tudo,
 
Quando fica namorado
 
Pela moça despresado
 
Não precisa conversá,
 
Logo ele tá entendendo
 
Os óios dela dizendo,
 
Viva lá que eu vivo cá.

Os óios conversa munto
 
Nele um grande livro inziste
 
Todo repreto de assunto,
 
Por izempro o oiá triste
 
Com certeza tá contando
 
Que seu dono tá passando
 
Um sofrimento sem fim,
 
E o oiá desconfiado
 
Diz que o seu dono é curpado
 
Fez arguma coisa ruim.

Os óis duma pessoa
 
Pode bem sê comparado
 
Com as água da lagoa
 
Quando o vento tá parado,
 
Mas porém no mesmo istante
 
Pode ficá revortante
 
Querendo desafiá,
 
Infuricido e valente;
 
Neste dois malandro a gente
 
Nunca pode confiá.

Oiá puro, manso e terno,
 
Protetó e cheio de brio
 
í‰ o doce oiá materno
 
Pedindo para o seu fio
 
Saúde e felicidade
 
Este oiá de piedade
 
De perdão e de ternura
 
Diz que preza, que ama e estima
 
í‰ os óio que se aproxima
 
Dos óio da Virge Pura.
 

Nem mesmo os grande oculista,
 
Os dotí´ que munta estuda,
 
Os mais maió cientista,
 
Conhece a lingua muda
 
Dos orgo visioná
 
E os mais ruim de decifrá
 
De todos que eu tí´ falando,
 
í‰ quando o oiá é zanoio,
 
Ninguém sabe cada óio
 
Pra onde tá reparando.

Autor: Patativa do Assaré

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