DAVÍ CALISTO NETO
Entre as catacumbas frias
Do cemitério esquesito
Eu desviava das cruzes
Pensando no infinito
Recordando da feição
Do pai, do tio, do irmão,
Meu peito soltava um grito
Olhei e li um escrito
No túmulo de um parente
Rosas murchas que restaram
De um passado recente
Meditava com meus ais
Quantos filhos, quantos pais,
Um do outro estavam ausente
Numa busca permanente
Procurava explicação
Porque morria a criança
E ficava o ancião?
Não entendi o mistério
Porque lá no cemitério
Não existe divisão
Com um rosário na mão
Vi uma mulher chorando
Eu dela me aproximei
E fui logo perguntando
Ela de perto atendeu
Foi meu filho que morreu
Por isso estou pranteando
Eu fiquei observando
As coisas que se passavam
Uns entrando outros saindo
Alguns se cumprimentavam
Muitos deles enlutados
Era dia de finados
Que os vivos comemoravam
As mortos que ali estavam
Nas tumbas silenciosas
Com seus corpos decompostos
Quantas mulheres formosas
Lugar sem muita esperanças
Onde só resta as lembranças
De vidas tão preciosas
Quantas vidas imperiosas
Reinaram enquanto vivia
Porém debaixo do chão
Não existe regalia
Quem não souber eu explico
Tanto o pobre como o rico
DEUS nunca diferencia
Com muita melancolia
Entre dores e gemidos
Vi semblantes pesarosos
Por perder entes queridos
Lugar de desilusão
Onde não há ascensão
E os sonhos são destruídos
Ali só os falecidos
Tem direito a moradia
Não existem diferenças
Em quem está na tumba fria
Ninguém é discriminado
Pobre e rico lado a lado
Sem haver soberania
Não vou fazer profecia
Por não saber do futuro
Entre a vida e a morte
Com certeza existe um muro
Do jeito que aqui está
Quem está do lado de lá
Está muito mais seguro.
AO MEU FILHO EVALDO
NENEN ESTEVAM
E LÁ ESTÁ MEU EVALDO
NESTE LUGAR TÃO DESERTO
ENTRE LÁGRIMAS E SOLUÇOS
VEJO SEU CORPO COBERTO
DENTRO DE UM TÚMULO FEITO
SINTO FORTE DOR NO PEITO
SEM PODER FICAR POR PERTO
UM FILHO É PARTE SAGRADA
QUE ESTÁ NO CORAÇÃO
ELE ESTANDO VIVO OU MORTO
NÃO HAVERÁ SEPARAÇÃO
EM QUALQUER LUGAR QUE FOR
A MÃE CONSERVA ESSE AMOR
E LHE ENVIA UMA BENÇÃO.
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