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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

CANÇÃO: CARTA DE UM MARGINAL




Mastruz Com Leite
(Me balançando na rede 
Numa taipa do Sertão.
 
Enquanto o Sol se escondia
 
Eu ouvia esta canção...
 
E num passeio ao passado
 
Me veio à recordação
. 
Manoel Belizario)

Recebi pelo correio 
Carta de um hospital 
Dizendo ser de um cliente 
Que passava muito mal 
O qual eu já tinha lido o 
Seu nome em um jornal
Dizia: caro poeta só 
Você que tem memória 
Pode transformar em versos 
Minha fracassada história
Meu destino veio traçado 
Com a minha formação 
O ventre que me gerou 
Foi desmando e traição 
Fui maldito desde o dia 
Da minha concepção
Passei por cima da pílula 
Fui gerado em desconforto 
Minha mãe tomou remédio 
Pra ver se eu nascia morto
Vim ao mundo por acaso 
E não conheci meus pais 
Fui jogado em um cerrado 
Em pedaços de jornais 
A polícia achou-me quando 
Procurava marginais.
Alguém de mim tomou conta 
Me fazendo uma esmola. 
Me criaram como filho 
E me botaram na escola 
Me criaram como filho 
E me botaram na escola.
Não quis saber de trabalho, 
Estudar não dei valor 
Sempre desobedecendo 
Ao meu superior 
Batia nos meus colegas. 
Xingava meu professor
Peguei o vício das drogas 
Junto com a corriola 
Minha vida foi maldita 
Mesmo dentro da escola
Fui expulso de um colégio 
Por traficância ilegais 
Desonrei uma menor 
E fugi da casa dos pais 
E parti para a pesada 
Num grupo de marginais
Não conto tudo a miúdo 
Porque meu tempo não dá 
Não quis nada com o trabalho 
Meu negócio era roubar
Traficante e assaltante 
Todos temiam a mim 
Fui terror da noite escura 
E fiz tudo que foi ruim 
Um germe assim como eu 
Só presta levando o fim
Sempre fugindo do cerco 
E matando de emboscada 
Seduzi muitas donzelas 
Fiz assalto à mão armada
Naquele mesmo lugar 
Onde eu fui encontrado 
Pela ronda da polícia 
Há muito tempo passado 
Me escondendo de um assalto 
Por ela eu fui baleado
A bala entrou no meu peito 
E feriu meu coração 
Já fizeram muito esforço 
Mas não tenho salvação
Não te escrevo mais porque 
Minha vista está tão pouca 
Falar também eu não posso 
Minha garganta está rouca 
Termino a carta botando 
Muito sangue pela boca

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